O cacique
Como surgiu o Cacique de Ramos? B.P: O Cacique foi criado em 1961, e a construção dele foi tão boa que não parou crescer. Na época, o Bafo da Onça era o todo poderoso, ninguém conseguia “engolir” ele na avenida. Mas, no carnaval de 1963, nós lançamos um samba chamado “Água na Boca”, que foi a maior explosão no Carnaval do Rio de Janeiro.É assim: “Nesse carnaval não quero mais saber, de brigar com você…” Naquela época, por causa do tamanho e da rivalidade, quando os dois blocos se encontravam era certo ter confusão. Como o senhor conseguiu acabar com as brigas? B.P: Teve um momento em que pensei: Isso não pode continuar, porque eu sou responsável praticamente por uma comunidade. Eram mais de oito mil pessoas. Então como líder, eu não poderia deixar continuar, porque uma hora, iria terminar em morte. Então, um dia cismei e fui até o ensaio do Bafo da Onça, no Catumbi. Era uma sexta-feira, peguei dois amigos – Pedrinho e o Motta – e fui. Cheguei na porta e pedi: Por favor, você poderia chamar o presidente Tião Maria! Quando ele chegou, eu disse: Vim aqui parabenizar você, porque o Bafo da Onça foi espelho para mim e pro meu bloco, sermos hoje destaques do Carnaval. Não tinha como ele brigar comigo! Ele me levou pra dentro da quadra, que estava cheia, pegou o microfone e anunciou: Queria agradecer a presença do Bira Presidente do Cacique de Ramos. Virou meu nome artístico e acabou a briga. Depois disso, quando o pessoal queria brigar, eu e ele chegávamos e nos uníamos para evitar confusão. Já se via casal, homem fantasiado com a roupa do Cacique e mulher com a do Bafo, namorando. Tiveram inúmeros casamentos desta forma. Quais personalidades desfilaram pelo Cacique? B.P: Várias. Até Leila Diniz desfilou de pés no chão, no Cacique de Ramos! Muitos sambistas do Cacique se consagraram a partir dos sucessos que Beth Carvalho começou a gravar? Como foi que ela conheceu o Cacique? B.P: Quem levou Beth Carvalho pro Cacique foi o Alcir Portela, que era jogador naquela época. Ela se apaixonou pelo samba tocado embaixo da Tamarineira. Gostou tanto, que resolveu gravar com a gente em estúdio, no formato da nossa roda de samba. Pra gente finalizar, qual é o segredo do Cacique? B.P: Existe um patuá naquela tamarineira. Minha mãe lutou muito espiritualmente pelo terreno do Cacique. Existe uma parte espiritual muito forte lá. Além disso, a Beth Carvalho, que não é uma feiticeira, mas, que tem um olho clínico, abriu espaço não só pro Fundo de Quintal, como grandes nomes da música popular brasileira. Eu me sinto orgulhoso por ser presidente de uma entidade que culturalmente deu tantos nomes consagrados à MPB.